SEMINÁRIO TEMÁTICO
Espaços de Aprendizagem : ambientes virtuais
Fabiana Pizara Gomes Cruz[1]
Um grande desafio é gerado quando tentamos conceitualizar a aprendizagem, pode-se dizer que este desafio acontece pela flexibilidade e complexidade de pensamentos que nos permite teorizar, raciocinar, sentir e imaginar o processo de aprender.
No sentido da tradução literária da língua portuguesa podemos dizer que aprender é adquirir conhecimento de; ficar sabendo; guardar na memória; adquirir experiência; tirar proveito; instruir-se, e conseqüentemente aprendizagem é o tempo durante o qual se aprende
Para facilitar o esclarecimento ou para melhor compreender o que é aprender, citarei alguns autores que buscam conceituar a aprendizagem.
De acordo com a visão do Behaviorismo, o conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente permanente no comportamento, que resulta da prática.
Desta forma a aprendizagem está onipresente em nossas vidas, envolvida não apenas no domínio de nova habilidade ou tema acadêmico, mas também no desenvolvimento emocional, interação social e, até mesmo no desenvolvimento da personalidade. Nós aprendemos o que temer, o que amar, como ser educados, como ser íntimos.
O termo aprendizagem foi inaugurado pelo americano John B. Watson, num artigo em 1913, na qual argumentava que toda aprendizagem dependia do meio externo, que toda atividade humana é condicionada e condicionável.
Para David Ausubel (1968, 37-38), psicólogo da aprendizagem, o principal no processo de ensino é que a aprendizagem seja significativa. Isto é, o material a ser aprendido precisa fazer algum sentido para o individuo. Isto acontece quando a nova informação “ancora-se” nos conceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz.
“O aprendizado significativo acontece quando uma informação nova é adquirida mediante um esforço deliberado por parte do aprendiz em ligar a informação nova com conceitos ou proposições relevantes preexistentes em sua estrutura cognitiva”. (Ausubel et al., 1978, p. 159)"
Neste sentido o autor ressalta a importância da aprendizagem de conteúdo verbal com sentido, aquisição e retenção de conhecimentos de maneira "significativa". O resultado é tão eficaz quanto a aprendizagem por "descoberta", defendida posteriormente por Bruner, mais efetivos por economizarem tempo do aprendiz e serem mais tecnicamente organizados.
De acordo com Freire (1980) a aprendizagem e o saber, tem um papel emancipador, pois a teoria e a prática relacionam-se com o conhecimento e seus interesses. A mensagem de Paulo Freire é uma pedagogia que dignifica o outro. Para o autor só conhecemos aquilo que é significativo para nós. Ter respeito e diálogo é um salto da consciência ingênua para consciência crítica.
“Pode-se dizer que Freire (1980, 34-35) se preocupa com o tipo de homem que o conhecimento constrói, quem é realmente o homem do seu tempo, onde a insatisfação e a auto-realização são aspectos importantes nesse homem. A aprendizagem, portanto, deve preparar o homem para a autonomia intelectual, para a compreensão da realidade, para a facilidade da comunicação, para a oralidade, não prepará-lo para a cultura do silêncio, e, somente desse modo ele poderá afirmar-se como soberano.
“Somente na comunicação tem sentido a vida humana. Que o pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto, na intercomunicação. Por isto, o pensar daquele não pode ser um pensar para estes nem a estes imposto.” ( Freire,1983, p. 75)
No entanto Bruner (1969, 55-60) preocupa-se em induzir uma participação ativa do aluno no processo de aprendizagem, contemplando a aprendizagem por descoberta centralizando a exploração de alternativas e o currículo em espiral. O conceito de exploração de alternativas pressupõe que o ambiente ou conteúdo de ensino deve proporcionar alternativas para que o aluno possa inferir relações e estabelecer similaridades entre as idéias apresentadas, favorecendo a descoberta de princípios ou relações
O modelo de aprendizagem pela descoberta de Bruner, estabelece que se deve usar uma abordagem voltada para a solução de problemas ao ensinar novos conceitos.
Para mim Vygotsky é o que apresenta maior contribuição no entendimento do complexo processo de aprendizagem humana.O autor propõe o interacionismo, que é baseado em uma visão de desenvolvimento apoiada na concepção de um organismo ativo, onde o pensamento é construído gradativamente em um ambiente histórico e, em essência, social.
A interação social possui um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e toda função no desenvolvimento cultural de um sujeito aparece primeiro no nível social, entre pessoas, e depois no nível individual, dentro dele próprio.
Segundo Vygotsky (1974, 1984 ) , essa interação social é origem e motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual. Todas as funções no desenvolvimento do ser humano aparecem primeiro no nível social (interpessoal), depois, no nível individual (intrapessoal). A aprendizagem humana pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as pessoas penetram na vida intelectual daquelas que as cercam.
Diante de todos os olhares e das diferentes concepções citadas, posso afirmar que poderia falar das concepções de forma amplamente variada e infinitamente, pois acredito que aprendizagem é uma construção, um caminho pelo qual todo ser humano faz parte.
A aprendizagem faz parte da evolução humana, assim para aprendermos precisamos de algo significativo, portanto nesse caso, a aprendizagem se torna significativa para todos, pois o aprender é uma questão de sobrevivência, para soluções de problemas e novas descobertas, assim nos emancipamos e buscamos dignidade e respeito, para nós e para o outro, possibilitando nos inserirmos na sociedade de forma critica e intelectual, interagindo com o mundo.
Como formadora de educadores, mãe, esposa, amiga e ser humano, gostaria de propor uma interação entre todas as teorias aqui presentes, pois acredito que aprender é transformar, memorizar, trocar, registrar, é tirar proveito, adquirir, conhecimento, desafiar, construir, formar, é estar vivo!
Partindo desses pressupostos e concordando com Freire a arte de ensinar procede ao aprender e vice-versa, portanto a valiosa profissão é ser professor!
Nesta perspectiva podemos considerar que os espaços de aprendizagem são os mais variados possíveis, e que diante dessas concepções torna-se espaço de aprendizagem o ambiente que proporcione à interação, a troca, a informação, de algo que nos de significado e que nos toque.
Dentre dos variados espaços de aprendizagem, devido aos avanços tecnológicos, a globalização, não podemos deixar de falarmos dos espaços de aprendizagem virtuais, assim o foco, para este assunto se centraliza nesses espaços.
Howard Rheingold foi o primeiro autor a difundir o conceito de comunidade virtual, em 1993, definindo a comunidade virtual como uma agregação cultural formada pelo encontro sistemático de um grupo de pessoas no ciberespaço.
Consideramos comunidade virtual de aprendizagem as redes eletrônicas de comunicação interativa, constituídas a partir de interesses comuns de conhecimento estabelecidos em um processo cooperativo.
Neste sentido, podemos admitir que as comunidades virtuais de aprendizagem realizem comunicações interativas, de forma cooperativa, na qual todos os sujeitos têm o mesmo direito de participação. O sujeito assume o papel ativo na construção do seu conhecimento de acordo com tema da comunidade e o educador tem o papel de orientador.
As comunidades virtuais de aprendizagem, conforme Passarelli (2003) foram gestadas no espaço midiático da Internet e concebe novas possibilidades para o processo de ensino e aprendizagem, tanto no âmbito da educação formal realizadas em escolas tradicionais, como no da educação não-formal na educação comunitária, educação para a vida.
Segundo Magdalena e Costa (2005), as Comunidades Virtuais de Aprendizagem promovem um novo modo do ser, de saber e de apreender, em que cada novo sistema de comunicação, da informação cria novos desafios, que implicam novas competências e novas formas de construir conhecimento.
È neste sentido que acreditamos que um currículo interdisciplinar e aberto aos espaços virtuais justifica-se a partir de razões históricas, filosóficas, sócio-políticas e ideológicas, acrescidas das razões psicopedagógicas, nas quais as informações, as percepções e os conceitos compõem uma totalidade de significação completa e o mundo já visto na totalidade.
Bibliografia
AUSUBEL, David. Psicologia educativa: um ponto de vista cognitivo, Editorial Trillas,México,1976. BRUNER, J; Uma Nova Teoria de Aprendizagem, Edições Bloch. Rio de Janeiro, 1969.
FREIRE, Paulo. Conscientização - teoria e prática da libertação. 3ª ed. São Paulo: Moraes, 1980.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido (29a ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MAGDALENA, B. C. e COSTA I. E. T. Novas formas de aprender: comunidades deaprendizagem.IN: Salto para o futuro / TV Escola.Disponível em
RHEINGOLD, H. A Comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva, 1996
VYGOTSKKY, L.S.. Linguagem e Pensamento. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
[1] Mestranda em Educação - Formação de Professores, pela Universidade de Uberaba.